A sala de espera
O telefone toca e o meu coração salta uma batida. Estou à espera que alguém me ligue com os resultados do último exame.
O telefone toca e o meu coração salta uma batida. Estou à espera que alguém me ligue com os resultados do último exame.
Começou com umas manchas não identificadas numa ressonância magnética pélvica. «Com o seu historial», disse a médica, «é melhor fazer uma PET para ver o que é». O meu primeiro pensamento foi que exagerava, mas compreendi a precaução. Não estava ansiosa por ir fazer a PET, achava mesmo que não ia dar em nada.
Achei que não ia dar em nada, mas algumas horas depois recebi o telefonema da oncologista.
Algumas horas depois do exame, recebi um telefonema da minha oncologista. O tempo parou por um momento quando percebi o que ela dizia. Quando os segundos voltaram a passar, corriam a um ritmo diferente. Na PET, as imagens do meu corpo tinham-se iluminado como uma árvore de Natal e a médica disse que eram provavelmente metástases, nos meus ossos, do cancro da mama tratado sete anos antes. Acrescentou que, se fosse esse o caso, existiam novas terapias direcionadas com bons resultados e menos efeitos secundários do que a quimioterapia. O passo seguinte era fazer uma biópsia à anca para confirmar o diagnóstico.
Senti qualquer coisa a mudar dentro de mim. Algo estava para vir, e eu ia ter de me transformar na pessoa que iria lidar com o que viesse. Uma persona mulher-com-uma-doença-terminal que ia ter de aprender a navegar nestas águas, a continuar no meio da tempestade, e a esperar.
Nessa tarde esperei pela marcação da biópsia e depois esperei pelos resultados.
Quando os resultados não revelaram células de cancro, a minha nova persona ficou confusa - talvez tivesse sido criada prematuramente. Depois de mais testes, a equipa decidiu que era preciso nova biópsia. A espera recomeçou.
A espera não é uma tela em branco. Nesses primeiros momentos, em que contava os dias e as horas, a espera chegou com um manto cinzento que tingiu tudo o que tocou com perguntas e listas de coisas a fazer.
Se estou mesmo doente, quanto tempo me resta? O que vou fazer com esse tempo? Que livros quero ler ou reler? Que viagens quero fazer? Com quem quero estar? Qual é a altura para fazer uma limpeza sueca e começar a livrar-me das coisas que acumulei?
As esperas seguintes encheram-se de outras perguntas, de outras listas.
Aprendi a compartimentar, a criar um espaço onde a espera acontece separada do resto, dos momentos que correm desde que acordo até ir dormir. Reconheço quando a ansiedade chega, recebo-a e deixo-a habitar a sala de espera até que se desvaneça. Talvez esteja a deixar que esses espaços corram em paralelo, para que não permeiem e não se contaminem.
Algumas coisas ajudam, como focar-me em coisas fora desse espaço e estar com pessoas queridas. Escrever estas palavras tornou-se uma forma de orientar o foco para um espaço onde tudo isto ganha um novo significado.
Funciona… em alguns dias. Noutros, o foco volta para a sala de espera: fico em casa, afundo-me, vejo filmes e faço sudokus, arrasto as horas até ir dormir.
A sala de espera tornou-se um espaço permanente onde conto os minutos, os dias, os meses, os anos. Tento não me demorar nela.
PET: Tomografia por emissão de positrões
Foto de Kirill Ermakov